A simplicidade da dança contemporânea
Simplicidade, minimalismo e detalhe são algumas das características que o projeto Guelra proporcionou ao ambiente bracarense, vivido num espaço pensado ao pormenor. Com uma dança artística elementar, incorporada por Flávio Rodrigues, assim se passou uma noite na cidade do Norte.
No passado sábado à noite, o projeto Guelra, orientado pelo artista Flávio Rodrigues, marcou presença no gnration, trazendo consigo uma produção contemporânea que deixou o público impressionado.
Baseado na criação de esculturas com objetos do quotidiano, o artista foi capaz de criar um efeito surpresa através desse conceito simplista, adaptável e distinto de fazer arte. Dentro de uma sala harmoniosa, equipada com sons da natureza e com a projeção de imagens vídeo envolventes do próprio artista, a performance ficou marcada pela dedicação e rigor dos movimentos deste.
Definido como um Laboratório de Transcrição Coreográfica, Guelra é um projeto desenvolvido pela Arte Total, desde 2012. Este é um laboratório que consiste em fazer criações artísticas num contexto “site-specific”, onde a arte adquire um caráter adaptável ao sítio onde se encontra, transformando-o.
Embora os objetivos fulcrais fiquem ao critério de quem a cria, este tipo de arte resulta da organização de material usado para formar esculturas, formas, imagens que, mais tarde, resultam numa apresentação pública final. A conceção de dança surge com a performance que o artista atribuiu à sua criação, podendo-lhe conferir movimento e um certo ritmo na forma como dispõe os objetos utilizados.
A sessão teve o seu início marcado com um breve discurso de Flávio Rodrigues, onde, de forma sucinta, explicou como iria decorrer e em que consistia a sua apresentação. Embora as interrogações ainda se mantivessem no ar, o artista rapidamente iniciou o processo de criação.
Cordas, panos e pedras foram os objetos utilizados pelo performer para conferir dinâmica à sala. Rodeado pelos olhares fixos e atentos do seu público, e juntamente com um silêncio que se fez ouvir, o artista demonstrou foco e harmonia à medida que disponha os materiais ao longo do espaço, montando as suas esculturas.
Uma carpete colorida com vários retalhos foi o elemento final que marcou o ponto alto da exposição. A sala foi abandonada e o cenário criado prolongou-se até ao corredor onde Flávio Rodrigues, dotado de movimentos pausados e de um equilíbrio notável, estendeu a carpete. A perplexidade atingiu o público que mantinha os olhos fixos na performance do artista, ao mesmo tempo que não deixavam passar despercebidas as cores presentes.
A sessão terminou com vários aplausos destinados ao artista, juntamente com a contemplação da arte que fora ali criada, simultaneamente, em dois espaços.
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